# 64 - Beijar a cruz




"– Se não fosse pelo meu Joaquim, ninguém me apanhava a comer o cabrito de domingo na parvónia. – remata ele, balouçando nos calcanhares.

Apreensiva com as ameaças e irregularidades do terreno, a mulher vai de caminho comprar calçado. Além das chinelas de trazer por casa, só tem sandálias de verão, sapatos e botins de salto alto. Disse-lhe o filho que ao redor da casa é tudo pedregoso e lamacento, já para não falar da bicharada miúda que se agarra com patas e ferrões a qualquer naco de pele desnudada. Queixas e receios à parte, o casal Pereira até considera este um sacrifício necessário pelo bem da família. Sobretudo por Joaquim, neto mais lindo não há, concordarei certamente assim que o vir, as fotos não fazem jus. E já que a cada mortal Deus entrega uma cruz para alombar, seja esta a deles. A via sacra é que, caramba, escusava de ser na Beira Alta."
Do magnífico blog "Mãe Preocupada".
Fragmentos de «uma autobiogradia sem factos». De Bernardo Soares. Mas também de outros.
Dia sim, dia não. Dia sim, dia sim. Dia não, dia não. Quando eu quiser.
Este é o momento para o cigarro que não fumo.
Inspirar [fundo], expirar [calmamente].
Ouvir, em vez dos pássaros, o som ordenado das pautas escritas com os punhos dos Homens.
Qualquer relação entre texto e música poderá ser mera coincidência (ou não).




Disclaimer 1: Este espaço serve ao autor para uma "releitura" de trechos de textos literários ao som de peças musicais, numa conexão que poderá parecer não ter sentido para o leitor. Uma explicação poderá ser encontrada após o contacto com o animador do blog. Ou não.

Disclaimer 2: Os textos, registos sonoros e audiovisuais aqui utilizados pertencem exclusivamente aos seus autores originais.

Disclaimer 3: A imagem que ilustra o topo desta página pertence ao magnífico trabalho de Manuel Casimiro.