«Bom vivo, cuja mente adormecida
O rezingão salvou lá mais pró fim,
Permite a este espectro nova vida.
O espectro sou do Capitão Alving.
Traz-me o passado mudo e reprimido,
Qual campeão lascivo em leito imundo,
Eu tento abrir o gesso comprimido
E abrir-me em confissão enfim ao mundo.
Em copo de água ébrio a velório,
O pastor Manders leva à certa o tanso.
Pra mim, que em vida estroina sou simplório,
O que afogar o pato, afogue o ganso.
A esposa deu-me um filho achacado,
Já a criada fêmea sã pariu.
Paternidade, teu nome é agrado,
Se o filho sábio sabe a quem saiu.
E juram ambas que eu sou o rapaz
Por quem lhes veio a sua criação.
Vá, diz, destino, se é que és capaz,
Por que é um deles são e o outro não.
O Olaf pode andar plo seu carreiro,
Viver a vida pura de Susana;
Mas lá apanhou no banho turco inteiro
Seu quantum est de Sífilis Romana.
Já Haakon sobe a via do mais fácil,
Lá vai cantando e rindo bem feliz,
Pra dar em velho um sorrisinho grácil,
Sem ter uma verruga no nariz.
Eu desisti de tudo, a bem dizer,
Mas diverti-me, andei na vadiice.
Não esqueço que a donzela com prazer
Nos tira as forças todas à denguice.
E quanto mais eu penso e bebo nisso,
À meia-noite, o ponche espirituoso,
Mais me convenço e certo estou eu disso,
Que o Manders veio ao lanche e foi guloso.
Que a Vikings, como eu, que a si se afundam,
Que lhes importa a culpa, se reside
Em D.S.T., TB., pensões e abundam
Até em Capitães de Port-Saíde?
E tudo e nada é digno de censura,
O apelo da rameira, o ai do jovem.
Mas não se inquire, em busca de uma cura.
Se quem pecou foi este ou o pai deste homem.
A choça arde. O biltre fariseu
Do carpinteiro pôs fim ao vigário.
Tivessem fogo preso como eu
E não teria havido incendiário.
E mais, não fosse eu sido todo o sido,
Promíscuo, fraco, um pândego constante,
O mundo não teria aplaudido
E não haveria nada de interessante.»