# 89 - Confinamento "rural"



O ermita caminha apressado
em direção à poalha
onde a refração desponta silenciosa,
o ermita pesa os passos
consciente que dói pisar pedras
e recolhe dentro de si malmequeres
e sonhos principalmente,
deixa-se arrepiar pelo extraordinário
suspeita que sabe e que isso o trama
colide no outro propositadamente
porque há algo tremendo a ligar,
traz na mão rasgões e rabiscos
e traz amor principalmente,
embora manchadas as vestes
há um brilho no peito
uma torre na noite
a mão escancarada a flor seca
a morte anunciando:
caminha despido e sossegado
porque o que rasga a crosta, regenera a carne
porque a solidão abre caminho para o amor.

Porque é talvez um dos meus preferidos poemas da Sandra Santos, "roubado" do seu magnífico Éter.
Fragmentos de «uma autobiogradia sem factos». De Bernardo Soares. Mas também de outros.
Dia sim, dia não. Dia sim, dia sim. Dia não, dia não. Quando eu quiser.
Este é o momento para o cigarro que não fumo.
Inspirar [fundo], expirar [calmamente].
Ouvir, em vez dos pássaros, o som ordenado das pautas escritas com os punhos dos Homens.
Qualquer relação entre texto e música poderá ser mera coincidência (ou não).




Disclaimer 1: Este espaço serve ao autor para uma "releitura" de trechos de textos literários ao som de peças musicais, numa conexão que poderá parecer não ter sentido para o leitor. Uma explicação poderá ser encontrada após o contacto com o animador do blog. Ou não.

Disclaimer 2: Os textos, registos sonoros e audiovisuais aqui utilizados pertencem exclusivamente aos seus autores originais.

Disclaimer 3: A imagem que ilustra o topo desta página pertence ao magnífico trabalho de Manuel Casimiro.