No príncipio era o Verbo (e os açúcares e os aminoácidos). Depois foi o que se sabe. Agora estou debruçado da varanda de um 3º andar e todo o Passado vem exactamente desaguar neste preciso tempo, neste preciso lugar, no meu preciso modo e no meu preciso estado!
Todavia em vez de metafísica ou de biologia dá-me para a mais inespecífica forma de melancolia: poesia nem por isso lírica nem por isso provavelmente poesia. Pois que faria eu com tanto Passado senão passar-lhe ao lado, deitando-lhe o enviezado olhar da ironia?
Por onde vens, Passado, pelo vivido ou pelo sonhado? Que parte de ti me pertence, a que se lembra ou a que esquece? Lá em baixo, na rua, passa para sempre gente indefinidamente presente, entrando na minha vida por uma porta de saída que dá já para a memória. Também eu (isto) não tenho história senão a de uma ausência entre indiferença e indiferença.
Fragmentos de «uma autobiogradia sem factos». De Bernardo Soares. Mas também de outros. Dia sim, dia não. Dia sim, dia sim. Dia não, dia não. Quando eu quiser. Este é o momento para o cigarro que não fumo. Inspirar [fundo], expirar [calmamente]. Ouvir, em vez dos pássaros, o som ordenado das pautas escritas com os punhos dos Homens. Qualquer relação entre texto e música poderá ser mera coincidência (ou não).
Disclaimer 1: Este espaço serve ao autor para uma "releitura" de trechos de textos literários ao som de peças musicais, numa conexão que poderá parecer não ter sentido para o leitor. Uma explicação poderá ser encontrada após o contacto com o animador do blog. Ou não.
Disclaimer 2: Os textos, registos sonoros e audiovisuais aqui utilizados pertencem exclusivamente aos seus autores originais.
Disclaimer 3: A imagem que ilustra o topo desta página pertence ao magnífico trabalho de Manuel Casimiro.