"Atendendo bem, é nesta gente derramada para fora do mercado e que escorre pela ladeira lateral, sentada no murete, sentada no chão, nesta gente que parece ser de outro tempo, não ser daqui, homens de chapéu, mulheres de escuro, lenço preto na cabeça, que propõem humildes couves a quem passa, cebolo, alhos para dispor, sementes de alface, pés de tomate, árvores pequeninas ávidas de terra, é nestas mãos gretadas, calosas, grossas, é daqui que ele suspeita derivar, é destes que ele sente ser pertença.
Levado na convincção de identidade rodopia com estes corpos velhos, vergados por afazeres chãos, num redemoinho endiabrado por feiras e festanças, bailaricos, pisas, desfolhas, crendices, procissões, milagres. Morre e ressuscita numa dança enlameada sobre as árvores, os campos, as casas, os currais. Com burros, porcos, galinhas, vacas e outras gémeas criaturas. E canta a terra. E crê na terra.
Por momentos."