«Entreolham-se. E entressonhando, entretecem entrebeijos entretanto. Entredentes, entreouvidos, entresseios, entressorrindo entrementes, nas entrelinhas dos entrenós, entrecruzam entretelas. Entreligam entremeios. Entrelaçam entrefolhos. Entrechocam entretalhos. Entrepernas entretidos.»
# 68 - "I'm nobody"
"Qual é o preço da experiência?
Os homens a adquirem com uma canção?
Ganham sabedoria dançando nas ruas?
Não, ela é comprada pelo preço de tudo que um homem tem;
sua moradia, sua esposa, seus filhos.
A sabedoria é vendida num mercado sombrio onde ninguém vem comprar,
E no campo infecundo que o fazendeiro lavra em vão por seu pão.
É fácil vencer sob o sol do verão.
E na colheita cantar na carroça abarrotada de grãos.
É fácil dizer da cautela aos aflitos,
Falar das leis da prudência ao andarilho sem abrigo,
Ouvir o grito faminto do corvo na estação invernal,
Quando o sangue vermelho mistura-se ao vinho e ao tutano do cordeiro.
É tão fácil sorrir perante a ira da natureza,
Ouvir o uivo do cão ante a porta no inverno, e o boi mugindo no matadouro;
Ver um deus em cada brisa e uma bênção em cada tempestade.
Ouvir o som do amor no raio que arruína a casa do inimigo;
Regozijar-se diante da praga que toma o seu campo, e da doença que ceifa seus filhos,
Enquanto nossas oliveiras e nosso vinho cantam e riem na frente da porta,
e nossos filhos nos trazem frutas e flores.
Então o lamento e a dor estão quase esquecidos, assim como o escravo que roda o moinho,
E o escravo acorrentado, o pobre prisioneiro, e o soldado no campo de batalha,
Quando os ossos quebrados deixam-no gemendo à espera da morte feliz.
É fácil regozijar-se sob a tenda da prosperidade.
Eu poderia cantar e me regozijar dessa maneira: mas eu não sou assim."
Os homens a adquirem com uma canção?
Ganham sabedoria dançando nas ruas?
Não, ela é comprada pelo preço de tudo que um homem tem;
sua moradia, sua esposa, seus filhos.
A sabedoria é vendida num mercado sombrio onde ninguém vem comprar,
E no campo infecundo que o fazendeiro lavra em vão por seu pão.
É fácil vencer sob o sol do verão.
E na colheita cantar na carroça abarrotada de grãos.
É fácil dizer da cautela aos aflitos,
Falar das leis da prudência ao andarilho sem abrigo,
Ouvir o grito faminto do corvo na estação invernal,
Quando o sangue vermelho mistura-se ao vinho e ao tutano do cordeiro.
É tão fácil sorrir perante a ira da natureza,
Ouvir o uivo do cão ante a porta no inverno, e o boi mugindo no matadouro;
Ver um deus em cada brisa e uma bênção em cada tempestade.
Ouvir o som do amor no raio que arruína a casa do inimigo;
Regozijar-se diante da praga que toma o seu campo, e da doença que ceifa seus filhos,
Enquanto nossas oliveiras e nosso vinho cantam e riem na frente da porta,
e nossos filhos nos trazem frutas e flores.
Então o lamento e a dor estão quase esquecidos, assim como o escravo que roda o moinho,
E o escravo acorrentado, o pobre prisioneiro, e o soldado no campo de batalha,
Quando os ossos quebrados deixam-no gemendo à espera da morte feliz.
É fácil regozijar-se sob a tenda da prosperidade.
Eu poderia cantar e me regozijar dessa maneira: mas eu não sou assim."
(tradução retirada daqui)
# 67 - Se a resposta é um ser humano, então qual é a pergunta?
"A arte íngreme que pratico escondido no sono pratica-se
em si mesma. A morte serve-a.
Serve-se dela. Arte da melancolia e do instinto.
Quando agarro a cara, a rotação do mundo faz rodar
a olaria astronómica: uma cara
chamejante, múltipla, luxuosa.
Deus olha-a.
E a arte alta do sono fica pesada:
- Mel, o mel em brasa, a substância
potente, elementar, ardente, obscura, doce de uma doçura
fortíssima,
o mel,
arrebatada. Uma arte inextricável que,
pela doçura, enche as bolsas cruas
da carne, embriagada, queima tudo, mata,
mata."
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Fragmentos de «uma autobiogradia sem factos». De Bernardo Soares. Mas também de outros.
Dia sim, dia não. Dia sim, dia sim. Dia não, dia não. Quando eu quiser.
Este é o momento para o cigarro que não fumo.
Inspirar [fundo], expirar [calmamente].
Ouvir, em vez dos pássaros, o som ordenado das pautas escritas com os punhos dos Homens.
Qualquer relação entre texto e música poderá ser mera coincidência (ou não).
Dia sim, dia não. Dia sim, dia sim. Dia não, dia não. Quando eu quiser.
Este é o momento para o cigarro que não fumo.
Inspirar [fundo], expirar [calmamente].
Ouvir, em vez dos pássaros, o som ordenado das pautas escritas com os punhos dos Homens.
Qualquer relação entre texto e música poderá ser mera coincidência (ou não).
Disclaimer 1: Este espaço serve ao autor para uma "releitura" de trechos de textos literários ao som de peças musicais, numa conexão que poderá parecer não ter sentido para o leitor. Uma explicação poderá ser encontrada após o contacto com o animador do blog. Ou não.
Disclaimer 2: Os textos, registos sonoros e audiovisuais aqui utilizados pertencem exclusivamente aos seus autores originais.
Disclaimer 3: A imagem que ilustra o topo desta página pertence ao magnífico trabalho de Manuel Casimiro.